quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

PESSOA, CASAL E FAMÍLIA


Há cinco aspectos importantes a considerar sobre tão importante assunto: O projeto Divino; A ruptura do projeto Divino; A restauração; A vida familiar saudável e; Implicações para uma pastoral à família.

   Antes de criar o homem, o Senhor preparou a plataforma para a sua chegada. O conselho Trino já havia se reunido e levado a efeito a criação da Natureza e do Universo, que não era um fim em si mesmo, mas que exigia a presença de um mordomo, um administrador. Deus faz, então, o homem, segundo a sua “imagem e semelhança”. (Gênesis 1.26)

  Compreendemos por “imagem e semelhança de Deus” que o ser humano tem algo de Deus em sua constituição, que o torna um ser especial, um ser diferente do restante da criação. Significa também que, criatura e Criador participam de uma relação específica, como pai-filho, visto que o “fôlego de vida”, soprado por Deus em suas narinas, determina o curso de suas relações e o vincula a ele. Ambos permanecem ligados e um não pode ser compreendido sem o outro, o que faz do ser humano um “sujeito”, um ser em relação.  A imago Dei e a “soberania” estão intimamente ligadas, podendo ser consideradas fator determinante no conceito de “pessoa”.

   No texto de Gênesis, vemos o Criador entregando ao homem o domínio de tudo o que criara. Ele era o soberano do meio e nessa tarefa de dominar, precisava enxergar o outro como companheiro, pois se o usasse como objeto, estaria atentando contra a imago Dei, tanto sua como do outro. 

   No propósito de Deus, homem e mulher foram criados iguais e, ao mesmo tempo, diferentes. Isto permitiria uma intimidade sem perda de identidade, uma aproximação, mas ao mesmo tempo, o direito ao espaço para crescer, psicossocial e espiritualmente. Esta igualdade pode ser vista em Gênesis, em sua condição em sua vocação e em sua satisfação [ambos, homem e mulher são feitos de uma forma que possibilita a aceitação mútua, recebimento e gozo. Para sua satisfação, ambos se aceitam.

   Lamentavelmente o terceiro capítulo de Gênesis registra a entrada do pecado na experiência humana, e consequentemente, a morte, e a alienação deste homem. Rompe-se assim o projeto divino. O homem teve a imago Dei distorcida, embora não extinta. O que se segue são atitudes arbitrárias entre este e sua mulher. Ambos não conseguem entender-se, aceitar-se a si mesmos; passam a acusar-se mutuamente, distanciam-se um do outro, já não se vêem como iguais. Deixam de ser seres complementares. O homem culpa a mulher pela situação presente, e  não assume sua responsabilidade. Passa, então a explorá-la e dominá-la sexualmente, já que o sexo também sofre uma distorção em seu objetivo e funcionamento. Ela divide-se entre a atração pelo marido e a sua autonomia.

   Mas, nem tudo resumiu-se à exploração, segregação e projeção de problemas na vida dos dois. O Criador não os deixou em tal condição, mas prometeu restaurá-los, por meio de Jesus Cristo, que tornaria possível a conversão de um estado de não relação a um de relação e a restauração da imago Dei. A presença de Jesus na história inaugura um novo tempo, em conseqüência, o indivíduo pode voltar a ser pessoa. Um novo modelo é proposto.

   O apóstolo Paulo apresenta um novo modelo que o casal deve seguir, estabelecido entre “Cristo e a igreja” (Ef 5.23). Marido e mulher devem relacionar-se como Cristo relaciona-se com a igreja. Este modelo implica em primeiro lugar, um motivo [o homem vê na mulher um sujeito de amor, assim como Cristo vê a igreja; o amor é resgatado da ditadura dos sentimentos, com os quais frequentemente se confunde. Esse amar é a valorização do outro, não uma obrigação mas uma ação, uma decisão da vontade. Eu valorizo a mim e ao outro. Isto contrapõe-se frontalmente ao machismo].

  Em segundo lugar, nos oferece um ideal [o homem busca para a mulher o que Cristo busca para a igreja: santificá-la, a fim de obter uma igreja gloriosa, sem ruga, nem mácula, nem coisa semelhante (Ef 5.26,27). Por sua entrega, o homem busca a promoção da esposa, isto é, o estímulo para seu crescimento. Assim ele inspira respeito nela, e esta, por sua vez, valoriza-o]. Em terceiro lugar, o modelo apresenta uma estrutura, que não é somente uma dinâmica e um ideal, mas também uma ordem: o homem é o cabeça da mulher, a qual deve ser seu corpo e sujeita ao marido (Ef 5.23).  Cabeça fala de autoridade, liderança; corpo, de interdependência; sujeição, fala de papel. Aqui não há superioridade ou inferioridade.
Esta estrutura não está ordenada com base nas diferenças entre homem e mulher, mas estabelecida por ordem do Criador.

  Na sociedade contemporânea percebemos a deterioração do conceito de autoridade e, em muitos casos, a ausência dela, ou seja, quando o homem cumpre seu papel de autoridade, o faz como se fosse uma ditadura. Por outro lado, há famílias em que essa liderança simplesmente não existe, e a mulher acaba por exercê-la em demasia, já que o homem não está presente. Somente um modelo como o apresentado em Efésios pode corrigir, tanto a ausência como o abuso da autoridade em nosso meio.

  Deus deixou também para o casal e a família, recursos para uma vida feliz e dinâmica, como a graça, que os ajuda a evitar desenvolver relações possessivas ou dominantes; a revelação, que vem através da palavra. A graça e palavra de Deus afetam também a pessoa individualmente, valorizando-a e capacitando-a para realizar-se, independente da estrutura familiar que possua; o Espírito Santo, gerando o fruto na presença e na estrutura do casal e da família, garante fidelidade, compaixão, generosidade e aceitação, comunicação e a restauração com dignidade; e por fim, a Igreja, através de pessoas dotadas de dons especiais na área do aconselhamento, que estão disponíveis para integrar o casal e a família no corpo de Cristo, além de apresentar-se como um recurso valioso para  os solteiros, os separados, os divorciados e as chamadas famílias “incompletas” ou “reconstruídas”. 

  Apesar dos prognósticos negativos de Engels, e as descrições pejorativas de Skinner e Toffler quanto à família, o certo é que, pessoas continuam casando e tendo filhos.
A família foi projetada para ser um núcleo onde o crescimento integral é estimulado, em todos os seus membros, isso implica na satisfação das necessidades sexuais, afetivas, intelectuais, materiais, espirituais, de relacionamento, etc. Ou seja, a família é visto cumprindo as funções básicas de reprodução, nutrição, educação, e socialização.

  Marido e esposa, pais e filhos, e mesmo senhores e servos, devem relacionar-se com base no amor mútuo (Ef 5.21 ss.). Sob o senhorio de Cristo, a família obtém direção, sabedoria e amor, como complemento da iniciativa humana.

   Tanto a aceitação como o reconhecimento representam elementos fundamentais da identidade humana: a necessidade de ser aceito e de ser autônomo, que vem expressa mais na qualidade de relações, que na abundância de presentes.

Há também regras que regulam as ações de cada membro da família, impõe limites e estabelece posições para eles, dentro da família: os filhos, devem obedecer aos pais; os pais, que os admoestem e discipline-os, segundo o Senhor. A família funciona quando cada membro assume sua posição e reconhece os limites que regulam  as relações.
Por fim, é importante e faz-se necessário considerar três áreas de trabalho, para uma implicação a uma pastoral da família: a prevenção, a intervenção e a reflexão, ou seja,
·    uma pastoral que investiga, se aprofunda, que conhece os contextos socioculturais e os marcos de referência familiares nos quais as pessoas crescem. Isso permite entrar nas raízes de seus problemas, de suas aspirações, de sua identidade, etc.

·         Acompanhar as famílias em seu desenvolvimento, conflitos e crises. Inclui auxiliar os casais na transição do “amor romântico” para o “amor de decisão”.
·         Uma reflexão teológica e pastoral nas áreas da sexualidade e da família. É necessário deixar de focar os indivíduos como “ilhas”, e conectar sua sexualidade e seu contexto familiar. A reflexão adequada a respeito objetiva auxiliar os cristãos a sanar conceitos e atitudes e, consequentemente restaurar as relações com sua família, tornando-se agentes de mudança dentro de seu sistema familiar e social.


Do ponto de vista teológico, entendo que, sempre que os princípios e propósitos de Deus forem violados, os prejuízos serão inevitáveis. Infelizmente o ser humano, por vezes, age de modo a equiparar-se aos animais, desrespeitando seu semelhante, infringindo leis básicas, estabelecidas pelo Criador. A valorização da pessoa, acredito, pode ser restaurada somente em Cristo Jesus. Acredito num ideal de casamento, onde haja sinceridade, respeito e, principalmente amor.










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