terça-feira, 3 de maio de 2011

O DESAFIO DA COMPREENSÃO BÍBLICA NUMA SOCIEDADE PLURAL


   A Palavra de Deus é, sem sombra de dúvidas, a matéria-prima de todo e qualquer curso de teologia. Não obstante a isso, tem sido ela combatida não somente fora dos arraiais da cristandade, mas dentro da própria igreja, que adere cada vez mais aos modismos e opta por uma interpretação particular, em detrimento da genuína hermenêutica bíblica.

Em alguns círculos pentecostais – as AD´s não fogem à regra - a Bíblia é de tal forma reverenciada que as pessoas acabam tornando-a inacessível a si mesmos, a ponto de não a lerem, privando-se assim de sua singular e maravilhosa mensagem. Para alguns,  ela é sagrada demais, até para ser tocada, por isso eles a mantêm longe do alcance das mãos.
                                                                                           
  Em nossas igrejas hoje, nos deparamos com pessoas que já vêm com uma mentalidade bastante difusa e idéias pré-concebidas. Ainda que a mensagem do pregador seja bem fundamentada, profunda, teologicamente correta, com uma dose de filosofia, de psicologia e um pouco de antropologia, ainda assim será questionada por esse tipo de pessoa. Hoje em dia não basta afirmar que Jesus salva! Mas porque ele salva. Do que ele salva.

RAZÕES PARA ADMIRAR A BÍBLIA
Dentre as inúmeras razões porque podemos admirar a Bíblia Sagrada, destacamos: sua atualidade, confiabilidade, continuidade, harmonia e unidade, imparcialidade, superioridade e universalidade. Ela  pode e deve ser estudada porque é nosso manual de conduta e prática; porque é alimento para a alma. (O professor que não se alimenta vai dar o que? ); e porque ela é o instrumento do Espírito Santo.

PLURALISMO – Palavra-chave
Numa definição simples, podemos dizer que Pluralismo é a “diversidade legítima”. Alguns cristãos mais “ortodoxos” - por falta de conhecimento - não gostam dessa terminologia, tampouco admitem o uso das palavras diversidade e pluralidade. Mas o Saber Teológico, baseado na Bíblia, vai permitir essa diversidade. A idéia é fazer as pessoas pensarem a partir de uma proposta. Questionar: De que maneira essa diversidade vai ser boa ou má o suficiente para nós, enquanto professores e servos de Deus? Não é possível corrompermos o princípio da revelação de Deus!

Por que Teologia Pluralista?
A fé é sempre maior que a razão, e a realidade a transcende. O entendimento teológico é sempre contextual. A Palavra é a mesma, o Deus é o mesmo, no entanto, esse Deus respeita o contexto no qual cada indivíduo está inserido.

Muitos teólogos desejaram que houvesse apenas uma teologia. Seria tudo mais simples, mais fácil. Todavia, isso não é possível.  Não se pode ignorar a existência de outras teologias. Só o Pentateuco, apresenta-nos quatro (4) traduções: a Javista, a Eloísta, a Sacerdotal e a Deuteronomista. Em alguns momentos elas dialogam entre si. Já noutros, divergem, porque são diferentes, originadas em épocas e em contextos diferentes.

  Quanto aos relatos da criação (Cap. 1,2), temos apenas duas opções:  aceitá-los como nos são apresentados, ou, simplesmente ignorá-los. Há, nela, pontos compreensíveis ao teólogo. Mas há também muitos outros obscuros. Nessas situações deve ter ele a humildade de reconhecer sua incapacidade de compreensão.

O Evangelho de Cristo é apresentado sob quatro (4) pontos de vista. Há muitas cristologias dentro do Novo Testamento. Ex: João e Paulo. O pluralismo no N.T fica evidente no confronto textual de Marcos e João, por exemplo.

Quando o teólogo/professor de deixa levar pelo embate teológico, dá uma demonstração de grandeza e mostra  estar aberto, disposto a ouvir o que o outro tem a dizer e agregar novos conceitos. Toda teologia é contextual e histórica.

O Pluralismo teológico tem suas bases e contextos bem delineados. Ambos precisam ser respeitados. Podemos citar cinco contextos, que são a razão do pluralismo: o Contexto cultural, o contexto histórico, o contexto da missão, o contexto dos novos enfoques, o contexto das singularidades individuais.
O pluralismo é legítimo, necessário e inevitável. Há apenas uma fé, mas muitas teologias. No mundo pós-moderno não há apenas uma teologia, uma psicologia, mas diversas “teologias”, diversas “psicologias”.

Uma reflexão que devemos fazer, a partir de nós mesmos, é a de retornar, não à teologia patrística ou da libertação, mas àquela primeira teologia, que nos remete diretamente à Palavra.

Há duas virtudes que se destacam no pluralismo: a humildade e a liberdade. Na primeira há o reconhecimento de seus próprios limites. Já na segunda, está a liberdade do conhecimento, que precisa estar fundamentada na Palavra. Nenhum teólogo tem o direito ou a liberdade de dizer o que quiser, se não, a partir dela e estando atrelado a ela.

Esse pluralismo também se baseia em critérios bastante claros, sendo eles: o Central e o Auxiliar. Aquele tem que estar de acordo com a doutrina. O extremismo da rigidez teológica não pode ser combatido com outro extremismo. Ex: Professor e aluno fechados para o embate teológico. Já vêm com conceitos formados e não estão dispostos à discussão, a ouvir o que o outro tem a dizer. Não e somos forçados a aceitar tudo o que outro nos diz, afinal, há diferença entre ser plural e ser herético. O diálogo religioso não nos obriga a isso, mas prevê essa condição de conversar e entender o outro. O saber de um deve complementar o saber do outro.

Às vezes consideramos heresia, uma teologia diferente da nossa, daquela que julgamos ser a mais correta, mas a unidade é sempre mais forte. Aceitamos a pluralidade, porém, jamais podemos prescindir da unidade da Palavra de Deus!
  Se a base é a Bíblia, devemos ser levados a entender que outras teologias – sendo genuínas, é claro – vão complementar a teologia que temos como foco. É preciso ser firme sem ser inflexível. Devemos ser firme em nossos conceitos, dar nosso parecer e opinião pessoal, e não ficar em cima do muro, absorvendo apenas o que o aluno está dizendo. Precisamos estar abertos para ouvir outros pontos de vista

Uma teologia não pode ser ortodoxa, mas ortopráxia A primeira é corretamente doutrinária, primaz, inegociável, correta. A pergunta a ser feita é: Para que? E não: Por que? Ex: O Tribunal de Cristo e o julgamento das obras. Lá, as motivações é que serão consideradas – o para que -, e não o “porquê”.
A ortodoxia, portanto, só fará sentido quanto tivermos uma ortopraxia. As teologias, por mais distintas que sejam, devem dialogar entre si.

Teologia em conflito no campo Social
Alguns fatores que geram esses conflitos podem ser considerados. São eles:

a) Insuficiente penetração intelectual > (falta de profundidade na comunicação de uma mensagem, de conhecimento, de unção.)

b) Formação ultrapassada > Ex: Pessoa que não recicla seus conhecimentos e nem se atualiza.  Parou no tempo. Estagnou.

c) A consciência social > Ex: Ainda que se utilize de técnicas e seja profundo na comunicação da mensagem, procurar trazer a revelação ao nível da compreensão das pessoas. Ou seja, falar a linguagem do lugar social.

Conclusão
Se a igreja não tem experimentado um avivamento espiritual é porque ela não tem tido uma idéia bíblica sobre o Deus das Escrituras. Esse avivamento se dá, tão somente mediante a sua relação com a Palavra. Só a Palavra nos dará o respaldo que precisamos.



 Resumo da matéria ministrada pelo Teólogo, Psicólogo e Profº de Teologia Pb Neir Moreira,
no Seminário de Atualização, realizado em 02,03 de Fevereiro de 2011, na  IEADC sede.