segunda-feira, 9 de maio de 2011

A TEOLOGIA BÍBLICA E O SECULARISMO PÓS-MODERNO - Resumo



O que é Pós-modernidade?
Do ponto de vista cronológico a Pós-modernidade teve eu início com a queda do muro de Berlim. Do ponto de vista Estético,  a relativização ou a pluralização das artes. Temos até o período moderno estilos artísticos, estéticos e literários muito bem delineados. Na música temos o Iê-iê-iê, a MPB, o tropicalismo, a bossa nova, etc. Nesse campo o que marca a pós-modernidade é a pluralização excessiva. Atualmente não se fala de movimento artístico ou musical.

Já, sob a ótica da filosofia, temos no período antigo uma filosofia que buscava explicação para todas as coisas no mundo metafísico - o famoso mundo das idéias de Platão – o mundo que está fora do real, chamado de Deus. Então, o que acaba por marcar a Idade Média é que Deus é causa, mas também é a culpa de tudo. Em nome de Deus se faz o bem, mas também se mata. 

Na Idade Moderna há uma tentativa de tornar tudo científico, de trazer para a terra, para a lógica, para a física, para a matemática, o que até então era o metafísico. O filósofo Immanuel Kant traz, então, esse metafísico para o homem: a razão humana, o intelecto humano como capaz de motivar as coisas e, responsável por suas decisões e atitudes. Já não se mata mais porque Deus quer, e sim porque o homem decidiu matar, consequentemente ele assume a responsabilidade por seus atos.

 O que marca a Pós-modernidade é a ausência de absolutos. Nada explica nada, tudo é relativo. Não existe a razão de ser de todas as coisas. Não existe causa primeira. Tudo é liquefeito 

Alguns pensadores definiram da seguinte forma esse período.
·         Lyotard diz “[...] não há “Verdades” absolutas para o pós-modernismo. Mesmo a ciência já não pode mais ser chamada de verdade, porque não existe verdade”.

·         Zygmunt Bauman - A modernidade imediata é "leve", "líquida", "fluida" e infinitamente mais dinâmica que a modernidade "sólida" que suplantou. A passagem de uma a outra acarretou profundas mudanças em todos os aspectos da vida humana. Em resumo: O que marca a pós- modernidade é a Liquefação da Modernidade. A Modernidade virou água, acomoda-se a qualquer realidade.

·         Lipovetsky – diz que o que marca a pós-modernidade é a hiper-valorização de todos os conceitos anteriores a ela. É tudo o que veio antes. É o que ele chama de hipermodernidade.

·         Habermas – diz que a pós-modernidade tem o único objetivo aniquilar todos os ideais que imperaram até o Iluminismo, mesmo os ideais iluministas.

 O que marca essa tal pós- modernidade?
 Nada e tudo. Não existe certo ou errado. Não há conceitos, nem valores. Não há nada que possa ser defendido, mas ao mesmo tempo qualquer coisa pode ser defendida. Nenhum discurso deve ser feito, ao mesmo tempo qualquer discurso é válido. Nada é verdadeiro, assim como cada pessoa pode ter a sua verdade. Não existem valores que possam ser dados como “valores verdadeiramente sociais. O que existe são valores individuais, defendidos por cada pessoa; Tudo é possível, mesmo àquele que não crê, porque não há no que se crer. Não há, portanto, um lugar onde se possa ancorar e nem se apoiar.

O que é Secularismo?
Do ponto de vista jurídico é a “separação entre o que é político e jurídico daquilo que é religioso”. É a separação entre o Estado e a Igreja. É a laicisação das coisas. Há a igreja corpo de Cristo, mística e espiritual, guiada pelo Espírito e regida pela Palavra de Deus, cujo patrimônio maior é a salvação de almas, e há também a igreja pessoa jurídica, de direito privado e sem fins lucrativos.

A secularização, sob vários aspectos, foi positiva, especialmente quanto a separar o jurídico do espiritual, afastando a possibilidade de o Estado interferir nos aspectos doutrinais, de usos e costumes ou disciplinares da igreja. Quando lemos um livro ou matéria que contenha a palavra “secularização ou secularismo” é necessário verificarmos de que assunto tal livro está tratando, pois secularismo nem sempre é pejorativo.
Porém, quando se trata de alguma literatura de cunho teológico, é diferente, visto que nós entendemos secularismo como a “entrada dos pensamentos, princípios e doutrinas seculares no âmbito da exegese bíblica. É olhar as coisas divinas sob a ótica e as lentes daquilo que é secular. Neste sentido sim, a consideramos pejorativo.

Teologia Bíblica
Existem diversas teologias. Tantas quantas religiões existem no mundo, são as teologias existentes. Mas a teologia de que estamos tratando está muito bem fundamentada, muito bem embasada e tem como bússola a Bíblia Sagrada.
Não se trata de uma teologia qualquer, mas de uma teologia bíblica. Há cidades brasileiras onde funcionam faculdades teológicas Umbandistas, Kardecistas, e do Candomblé. E são todas faculdades.

Teologia Bíblica na Pós-modernidade
Se a nossa teologia é bíblica, o método de interpretação da Bíblia que mais devemos usar é o método indutivo, que é aquele no qual nos esvaziamos de nossos conceitos e preconceitos e vamos ao texto bíblico base com toda a pureza de coração, lemos o texto e extraímos dele a verdade aplicável à nossa vida. Sem idéias pré-concebidas, tanto quanto possível, como se fôssemos uma tábua rasa, que buscássemos no texto bíblico os primeiros alfabetos da formação de nosso caráter.

Isto posto, vemos no texto bíblico de Romanos, cap. 12 e vers. 2 a seguinte afirmação: “ E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para convosco.”

Analisando o texto e utilizando o método indutivo de interpretação, concluímos que:
1.    Em primeiro lugar, para enfrentarmos esse momento de secularização pós-moderna, nossa teologia deve, obrigatoriamente, ser uma teologia não conformista. Uma teologia não conformista tem por premissa a manutenção da identidade Cristã. Se a base é a Bíblia Sagrada, se o método é o indutivo, se o modelo é Cristo, se a identidade é uma identidade cristã, então, uma teologia não conformista busca essa mantença da identidade.

Na vida cristã, como no quotidiano das pessoas, há uma certa confusão entre o que é identidade – conjunto de características que individualiza qualquer pessoa dentro da sociedade - daquilo que é um documento ou “cédula” de identidade. Nem sempre esta reflete ou revela a verdadeira identidade de seu portador. Nem sempre alguém que detém o título de pastor é realmente pastor, e assim por diante.

Todos nós, pelo batismo, deveríamos em Cristo, pelo novo nascimento, pela conversão adotar uma nova identidade, e essa nova identidade espiritual deveria ser a identidade de Cristo. Isto é, possuir no seu “eu espiritual” as mesmas características espirituais de Cristo. Não nos conformarmos com o mundo, portanto, é não aceitarmos qualquer outra espécie de forma que não a forma da identidade do próprio Cristo. Isto é uma teologia não conformista. Isto é identidade cristã.

 2 -Em segundo lugar, uma teologia bíblica é também uma teologia que transforma as pessoas na pessoa de Cristo. Mas não somente as transforma na pessoa de Cristo, também as conserva como pessoas de Cristo. “mas transformai-vos pela renovação da vossa mente...”
João Batista, em Mateus 3.11, usa uma palavra diferente em relação a Cristo, afirmando que “ele vos batizará com o seu próprio Espírito”. Agora o que fica já não é mais o indivíduo espiritual “fulano de tal”, mas o cheiro de Cristo, o sabor de Cristo, a cor de Cristo. Quando alguém olha já não vê mais o indivíduo e sim a Cristo, pois é Cristo que vive nele. Isto é metamorfo, isto é transformação.
Temos, portanto, de um lado a manutenção da identidade, e do outro, a transformação na identidade

Como combater o mundanismo? Como viver no secularismo? Como enfrentar a pós-modernidade? Nossa bússola é a Bíblia, nosso método é o indutivo, nosso modelo é Cristo, e a nossa teologia transforma as pessoas em Cristo e mantém as pessoas como representantes, verdadeiras imagens de Cristo na terra. Essa é uma teologia capaz de enfrentar o secularismo.

3.    Em terceiro lugar, uma teologia bíblica é uma teologia renovadora da mente.
No original, via de regra, mente nos remete à “psiqué”, alma. Mas nesse texto foi usado um termo mais abrangente, “humo” homem no sentido integral, holístico. Paulo fala, não apenas da modificação da capacidade intelectiva, volitiva do homem, mas também do “soma”, que é o corpo, a matéria, e também o elemento que faz a ligação com a figura do próprio Deus, que é o espírito, pneuma, derivado de Pneuma, que é o espírito do próprio Deus. Enfim, o homem, a partir de sua racionalidade deve ser transformado. Integralmente transformado. Holisticamente transformado.

É uma teologia que faz cumprir 1 Tessalonicenses 5 versículo 23: “E todo o vosso espírito, alma e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Nossa teologia deve ser uma teologia renovadora da mente, não apenas do intelecto. Uma teologia educadora, mais que ensinadora, visto que ensinar sugere apenas transmissão de conhecimentos, de informações, ao passo que educar é mudar o indivíduo e formar caráter.



Resumo da matéria ministrada pelo Profº de Teologia  Dr Pr Carlos Eduardo N. Lourenço
no Seminário de Atualização, realizado em 02 e 03 de Fevereiro de 2011, na  IEADC Sede.