Ana Cláudia Barros
O recente aval da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) ao kit anti-homofobia desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC) acrescentou um capítulo à discussão sobre o projeto, que ainda está em fase de análise.
A proposta é combater a discriminação a gays, lésbicas e transexuais nas escolas, capacitando professores para lidar com o tema em sala de aula. Mas a notícia de que o material - composto por cartilha, cartazes, folders e vídeos educativos - seria distribuído em 6 mil instituições de ensino da rede pública, eriçou o pelo de segmentos mais conservadores, que não tardaram a demonstrar descontentamento. Manifestações contrárias se disseminaram na internet e no próprio Congresso Nacional.
Presidente da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) - formada por 71 parlamentares, três deles, senadores -, deputado João Campos (PSDB-GO), conta a Terra Magazine que foi feito requerimento ao MEC, pedindo um exemplar do kit. A ideia é examinar o material para verificar se a denúncia de que faz "apologia à prática homossexual" - principal argumento dos opositores - procede de fato. A razão de tanta desconfiança, justifica Campos, está nos "precedentes".
- Temos experiências anteriores por parte do governo do então presidente Lula em que material que era confeccionado com determinado propósito e, quando depois tomávamos conhecimento, ia muito além daquilo - afirma, insinuando que a comunidade homossexual tem sido privilegiada pelo Executivo federal na comparação com outras minorias.
- Aonde está a política do governo em relação aos outros segmentos? Esses outros segmentos também não sofrem discriminação? Graças a Deus, a sociedade brasileira não é altamente discriminatória. Nem a gays, nem a religiosos, nem a idosos, nem a ciganos. Temos ocorrência de discriminação aos diversos segmentos, mas isso não é uma situação com tanta frequência como em outros países. Todavia, ela ocorre. E, ocorrendo, o governo deve estabelecer uma política pública adequada em relação aos diversos segmentos, e não apenas a um. Fazendo em relação a um, quem sabe, seja só o início. Mas por que não ampliar?
Sobre outros temas polêmicos, como o projeto que criminaliza a homofobia (PLC 122), desarquivado pela senadora Marta Suplicy (PT-SP) e a regulamentação da união civil entre casais do mesmo sexo, que vai ganhar novo projeto, o presidente da Frente Parlamentar Evangélica sinaliza que a resistência às matérias vai seguir firme e o debate deve avançar menos do que o esperado.
Para ele, o PLC 122, apelidado pelos críticos de "mordaça gay", "fere a liberdade de expressão". "Você não pode emitir um conceito. Você não pode dizer o que pensa acerca do homossexual, mas você pode dizer o que pensa acerca da prática política, acerca da prática religiosa... Não é crime", ironiza.
Já a união civil homossexual é considerada pelo deputado como "flagrantemente inconstitucional".
- A Constituição Federal, no artigo 226, ao tratar da união civil estável, é clara, não depende de interpretação. Ela se refere à união estável entre homem e mulher - diz, enfático.
Confira a entrevista.
Terra Magazine - Como a Frente Parlamentar Evangélica vai se posicionar em relação ao kit anti-homofobia desenvolvido pelo MEC? O material recebeu, recentemente, avaliação favorável da Unesco.
João Campos - Eu não conheço a manifestação da Unesco. Gostaria de conhecer para me pronunciar. Ainda não tive oportunidade de lê-la.
A atitude da Frente Parlamentar Evangélica é de prevenir. Não conhecemos o kit. Fizemos um requerimento ao ministro da Educação (Fernando Haddad), pedindo um exemplar do material para que possamos, através da nossa assessoria, examiná-lo. Queremos ver se esse kit tem apenas esse alcance ou vai além disso.
Temos experiências anteriores por parte do governo do então presidente Lula em que material era confeccionado com determinado propósito e, quando depois tomávamos conhecimento, ia muito além daquilo.
Como por exemplo? Houve um momento em que o Ministério da Saúde editou uma cartilha para prevenir doenças sexualmente transmissíveis e a cartilha era uma apologia ao sexo livre, uma cartilha inteiramente pornográfica. Se estivesse numa banca de revistas, ficaria lacrada. Entretanto, o governo estava distribuindo nas escolas.
É claro que nos posicionamos. Somos a favor de políticas que previnam as doenças sexualmente transmissíveis, mas chegamos à conclusão de que o conteúdo do material tinha outro alcance. Estimulava, quem sabe, a prostituição.
Houve outro momento em que o governo editou um folder também para prevenir doença sexualmente transmissível, me parece que voltado para homossexual, em que o material era uma apologia, uma incitação à prática do homossexualismo (sic). Não dá.
Em função desses precedentes é que estamos nos prevenindo. Queremos saber quem elaborou o kit, qual foi a rubrica que pagou, quais os dados que o Ministério da Educação tem para editar este material. Se o ministério está com material só para prevenir a discriminação em relação à comunidade homossexual ou se também em relação a outras minorias na sociedade, como por exemplo os ciganos, quilombolas, deficientes físicos, idosos. O governo não pode adotar uma política pública em relação a um segmento e deixar de adotar em relação a outros segmentos que sofrem do mesmo mal.
No entedimento do senhor, o governo privilegia a comunidade homossexual?
Estamos requerendo as informações para poder fazer essa avaliação. Primeiro: se o material proposto está dentro de uma visão pedagógica, dentro daquilo que foi anunciado, se é tão somente para prevenir a homofobia ou se vai além disso, fazendo apologia ao homossexualismo (sic), induzindo à prática homossexual.
O ponto dois é que queremos avaliar as políticas do governo em relação às diversas minorias que há na sociedade brasileira. Queremos avaliar se está sendo privilegiado apenas um segmento da sociedade. Até porque, um outro dado recente nos levou à reflexão. Em dezembro último, o então presidente Lula assinou um decreto, criando um conselho nacional contra a discriminação. Esta era a ementa do decreto, e nós aplaudimos. Só que, quando fomos examinar o conteúdo, vimos que não continha absolutamente nada sobre a discriminação às pessoas em geral ou pelo menos das outras minorias. O decreto trata única e exclusivamente da composição do conselho nacional contra discriminação a gays, lésbicas, travestis, transexual.
Então, o senhor acha que neste caso houve privilégio?Não acho. Eu tenho convicção. O presidente editou o decreto com todas as letras. Aonde está a política do governo em relação aos outros segmentos? Esses outros segmentos também não sofrem discriminação? Graças a Deus, a sociedade brasileira não é altamente discriminatória. Nem a gays, nem a religiosos, nem a idosos, nem a ciganos.
Temos ocorrência de discriminação aos diversos segmentos, mas isso não é uma situação com tanta frequência como em outros países. Todavia, ela ocorre. E, ocorrendo, o governo deve estabelecer uma política pública adequada em relação aos diversos segmentos, e não apenas a um. Fazendo em relação a um, quem sabe, seja só o início. Mas por que não ampliar? É uma pergunta que nós temos.
Em relação ao kit anti-homofobia, uma das justificativas do MEC para elaborar o material foi a constatação, por meio de pesquisas, de que as escolas são ambientes hostis para estudantes homossexuais. Como o senhor vê iniciativas como essa no sentido de minimizar a discriminação aos homossexuais?Aplaudimos toda e qualquer iniciativa no sentido de minimizar a discriminação a homossexuais, a religiosos, ciganos, negros, quilombolas. Essas iniciativas não podem vir desvirtuadas, vir com vícios, direcionadas apenas a um segmento.
Esse dado que o MEC diz que tem é outro dado que precisamos conhecer. Que instituto fez a pesquisa? Ela foi feita onde? Quais as escolas? Sabemos que existe discriminação, não só na escola, mas não só a homossexuais. Por que não também uma pesquisa que possa medir a discriminação a religiosos? A espíritas, a ciganos? O Estado não é um Estado de todos? Parece que o governo tem compromisso apenas com uma minoria daquelas que compõem a sociedade brasileira.
O senhor mencionou um folder desenvolvido pelo governo federal que faria apologia à homossexualidade. O que na avaliação do senhor significa induzir, fazer apologia a práticas homossexuais?Estimular, propagar...
O senhor pode me dar um exemplo?Um exemplo? Esse material. O governo com dinheiro público confecciona um material que faz toda uma mídia em favor dessa prática. Incentivando, induzindo.
Como a Frente Parlamentar Evangélica vai se posicionar em relação a outros temas polêmicos, como o PLC 122 e o projeto da união civil entre casais do mesmo sexo, que voltarão a ser discutidos no Congresso?O posicionamento que sempre tivemos. Não somos contra a criminalização da homofobia, assim como não somos contra a criminalização de qualquer outra conduta discriminatória à pessoa humana. Agora, o PLC 122 que está no Senado, na nossa análise, não é constitucional. Ele fere princípios fundamentais da Constituição brasileira. Se o Senado corrigir essas imperfeições de natureza inconstitucional, aí terá nossa aprovação.
Mas um dos princípios que ele fere é o da liberdade de expressão. Você não pode emitir um conceito. Você não pode dizer o que pensa acerca do homossexual, mas você pode dizer o que pensa acerca da prática política, acerca da prática religiosa... Aí, não é crime.
E o que se refere à união civil entre casais do mesmo sexo?O projeto da união civil de pessoas do mesmo sexo, chamado de casamento gay, é flagrantemente inconstitucional. A Constituição Federal, no artigo 226, ao tratar da união civil estável, é clara, não depende de interpretação. Ela se refere à união estável entre homem e mulher. Como um projeto de lei infraconstitucional pode dispor diferente daquilo que a Constituição dispõe? Não precisa ser um jurista clássico. Basta ser um acadêmico de Direito para ter essa compreensão dentro do princípio da hierarquia das leis. A lei menor não pode contrariar a lei maior.
Mas no meio jurídico, uma das discussões é que o Direito precisa acompanhar as mudanças que acontecem na sociedade. O senhor não acha que seria o caso de fazer uma reavaliação?Concordo. Sou bacharel em direito, especialista em direito constitucional. Então, o primeiro passo é aprovar uma emenda constitucional, e não um projeto de lei, que não pode alterar a Constituição.
Se a maioria do Parlamento entender que precisa aprovar uma emenda constitucional desta natureza, significa dizer que a maioria da sociedade então já evoluiu a esse ponto. Se a maioria do Congresso Nacional entender que precisa rejeitar, reprovar essa proposta, significa dizer que a maioria da sociedade não tem essa compreensão, ainda não está no estágio de evoluir a esse ponto. É o processo democrático.
Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4960741-EI6578,00-Frente+Parlamentar+Evangelica+quer+avaliar+kit+gay+do+MEC.html
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
PR JOSÉ PIMENTEL DE CARVALHO FALECE AOS 95 ANOS
É com muito pesar que noticio o falecimento do Pr Presidente da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Curitiba, Pastor José Pimentel de Carvalho, aos 95 anos - completados dia 08 de Fevereiro - em decorrência de falência múltipla de órgãos.
Oriundo do Rio de Janeiro, irmão Pimentel - como gostava de ser chamado - atendendo a um convite do então Pastor Agenor Alves de Oliveira, assumiu a Presidência da AD em Curitiba, em 1962. O trabalho prosperou em suas mãos. Igrejas foram sendo construídos em cada bairro da cidade, e em poucos anos milhares de almas foram salvas, como fruto de seu trabalho e dedicação.
No próximo dia 03 de Março ele completaria 49 anos à frente da AD curitibana, como seu presidente, mas aprouve ao Senhor da Seara promovê-lo ao lar celestial antes disso.
Como cooperador desse grande homem, sentirei falta de seus sábios conselhos, de seus ensinos e de sua palavra, sempre equilibrada e conciliadora.
Recordo-me das últimas reuniões de ministério em que ele pôde nos dar a honra de sua presença, quando, preocupado com o aparente esfriamento do povo, procurava lembrar aos pastores e dirigentes de congregações a importância destes pregarem mais sobre o Novo Testamento em suas igrejas, de voltarem a ensiná-la sobre o Batismo no Espírito Santo, sobre os Dons Espirituais, Milagres. As Doutrinas pentecostais. Era um homem preocupado com o estado espiritual do rebanho! Oh! como sentiremos sua falta!
Grande incentivador do estudo da Palavra de Deus, pastor Pimentel sempre se preocupou com o preparo teológico de seus obreiros. Sem dúvidas a EBO - Escola Bíblica de Obreiros e outros órgãos de ensino da AD em Curitiba, fundadas por ele, sentirão sua ausência e sempre o terão na memória como aquele que valorizava verdadeiramente o ensino da Palavra do Senhor.
Pastor Pimentel deixa um legado inestimável e indescritível, de um líder humilde, apaziguador, que sempre se pautou pela ética e pelo respeito aos companheiros de ministério. Um homem comprometido com o genuíno ensino da Palavra de Deus e com o Deus da Palavra. Um Paistor!!
Oremos para que o Senhor console a família enlutada! Esse é um momento em que o povo assembleiano precisa se unir em oração, pois só DEUS pode consolar os corações!
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
PEQUENOS DETALHES -
ARTIGO: Naquela noite, enquanto minha esposa servia o jantar, eu segurei sua mão e disse: "Tenho algo importante para te dizer". Ela se sentou e jantou sem dizer uma palavra. Pude ver sofrimento em seus olhos.
De repente, eu também fiquei sem palavras. No entanto, eu tinha que dizer a ela o que estava pensando. Eu queria o divórcio. E abordei o assunto calmamente.
Ela não parecia irritada pelas minhas palavras e simplesmente perguntou em voz baixa: "Por quê?".
Eu evitei respondê-la, o que a deixou muito brava. Ela jogou os talheres longe e gritou: "Você não é homem"!
Naquela noite, nós não conversamos mais. Pude ouví-la chorando. Eu sabia que ela queria um motivo para o fim do nosso casamento. Mas eu não tinha uma resposta satisfatória para esta pergunta. O meu coração não pertencia a ela mais e sim a Jane. Eu simplesmente não a amava mais; sentia pena dela.
Me sentindo muito culpado, rascunhei um acordo de divórcio, deixando para ela a casa, nosso carro e 30% das ações da minha empresa.
Ela tomou o papel da minha mão e o rasgou violentamente. A mulher com quem vivi pelos últimos 10 anos se tornou uma estranha para mim. Eu fiquei com dó deste desperdício de tempo e energia mas eu não voltaria atrás do que disse, pois amava a Jane profundamente. Finalmente ela começou a chorar alto na minha frente, o que já era esperado. Eu me senti libertado enquanto ela chorava. A minha obsessão por divórcio nas últimas semanas finalmente se materializava e o fim estava mais perto agora.
No dia seguinte, eu cheguei em casa tarde e a encontrei sentada na mesa escrevendo. Eu não jantei, fui direto para a cama e dormi imediatamente, pois estava cansado depois de ter passado o dia com a Jane.
Quando acordei no meio da noite, ela ainda estava sentada à mesa, escrevendo. Eu a ignorei e voltei a dormir.
Na manhã seguinte, ela me apresentou suas condições: ela não queria nada meu, mas pedia um mês de prazo para conceder o divórcio. Ela pediu que durante os próximos 30 dias a gente tentasse viver juntos da forma mais natural possível. As suas razões eram simples: o nosso filho faria seus exames no próximo mês e precisava de um ambiente propício para preparar-se bem, sem os problemas de ter que lidar com o rompimento de seus pais.
Isso me pareceu razoável, mas ela acrescentou algo mais. Ela me lembrou do momento em que eu a carreguei para dentro da nossa casa no dia em que nos casamos e me pediu que durante os próximos 30 dias eu a carregasse para fora da casa todas as manhãs. Eu então percebi que ela estava completamente louca mas, aceitei sua proposta para não tornar meus próximos dias ainda mais intoleráveis.
Eu contei para a Jane sobre o pedido da minha esposa e ela riu muito e achou a ideia totalmente absurda: "Ela pensa que impondo condições assim vai mudar alguma coisa; melhor ela encarar a situação e aceitar o divórcio", disse Jane em tom de gozação.
Minha esposa e eu não tínhamos nenhum contato físico havia muito tempo, então quando eu a carreguei para fora da casa no primeiro dia, foi totalmente estranho.
Nosso filho nos aplaudiu dizendo: "O papai está carregando a mamãe no colo!". Suas palavras me causaram constrangimento. Do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa, eu devo ter caminhado uns 10 metros carregando minha esposa no colo.
Ela fechou os olhos e disse baixinho: "Não conte para o nosso filho sobre o divórcio". Eu balancei a cabeça mesmo discordando e então a coloquei no chão assim que atravessamos a porta de entrada da casa.
Ela foi pegar o ônibus para o trabalho e eu dirigi para o escritório.
No segundo dia, foi mais fácil para nós dois. Ela se apoiou no meu peito, eu senti o cheiro do perfume que ela usava. Eu então percebi que há muito tempo não prestava atenção a essa mulher. Ela certamente tinha envelhecido nestes últimos 10 anos, havia rugas no seu rosto, seu cabelo estava ficando fino e grisalho. O nosso casamento teve muito impacto nela. Por uns segundos, cheguei a pensar no que havia feito para ela estar neste estado.
No quarto dia, quando eu a levantei, senti uma certa intimidade maior com o corpo dela. Esta mulher havia dedicado 10 anos da vida dela a mim.
No quinto dia, a mesma coisa. Eu não disse nada a Jane, mas ficava a cada dia mais fácil carregá-la do nosso quarto à porta da casa. Talvez meus músculos estivessem mais firmes com o exercício, pensei.
Certa manhã, ela estava tentando escolher um vestido. Ela experimentou uma série deles, mas não conseguia achar um que servisse. Com um suspiro, ela disse: "Todos os meus vestidos estão grandes para mim".
Eu então percebi que ela realmente havia emagrecido bastante, daí a facilidade em carregá-la nos últimos dias.
A realidade caiu sobre mim com uma ponta de remorso... Ela carrega tanta dor e tristeza em seu coração... Instintivamente, eu estiquei o braço e toquei seus cabelos.
Nosso filho entrou no quarto neste momento e disse: "Pai, está na hora de você carregar a mamãe". Para ele, ver seu pai carregando sua mãe todas as manhãs tornou-se parte da rotina da casa. Minha esposa abraçou nosso filho e o segurou em seus braços por alguns longos segundos... Eu tive que sair de perto, temendo mudar de ideia agora que estava tão perto do meu objetivo. Em seguida, eu a carreguei em meus braços, do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa. Sua mão repousava em meu pescoço. Eu a segurei firme contra o meu corpo. Lembrei-me do dia do nosso casamento.
Mas o seu corpo tão sem vida me deixou triste. No último dia, quando eu a segurei em meus braços, por algum motivo não conseguia mover minhas pernas. Nosso filho já tinha ido para a escola e eu me vi pronunciando estas palavras: "Eu não percebi o quanto perdemos a nossa intimidade com o tempo".
Eu não consegui dirigir para o trabalho... Fui até o meu novo futuro endereço, saí do carro apressadamente, com medo de mudar de ideia...
Subi as escadas e bati na porta do quarto. A Jane abriu a porta e eu disse a ela: "Desculpe Jane. Eu não quero mais me divorciar".
Ela olhou para mim sem acreditar, tocou na minha testa e disse: "Você está com febre?". Eu tirei sua mão da minha testa e repeti: "Desculpe Jane. Eu não vou me divorciar. Meu casamento ficou chato porque nós não soubemos valorizar os pequenos detalhes da nossa vida e não por falta de amor. Agora eu percebi que desde o dia em que carreguei minha esposa no dia do nosso casamento para nossa casa, eu devo segurá-la até que a morte nos separe".
A Jane então percebeu que era sério. Deu-me uma tapa no rosto, bateu a porta na minha cara e pude ouvi-la chorando compulsivamente. Eu voltei para o carro e fui trabalhar.
Na loja de flores, no caminho de volta para casa, eu comprei um buquê de rosas para minha esposa. A atendente me perguntou o que eu gostaria de escrever no cartão. Eu sorri e escrevi: "Eu te carregarei em meus braços todas as manhãs até que a morte nos separe".
Naquela noite, quando cheguei em casa, com um buquê de flores na mão e um grande sorriso no rosto, fui direto para o nosso quarto onde encontrei minha esposa deitada na cama - morta.
Minha esposa estava com câncer e vinha se tratando a vários meses, mas eu estava muito ocupado com a Jane para perceber que havia algo errado com ela. Ela sabia que morreria em breve e quis poupar nosso filho dos efeitos de um divórcio - e prolongou a nossa vida juntos proporcionando ao nosso filho a imagem de nós dois juntos toda manhã.
Pelo menos aos olhos do meu filho, eu sou um marido carinhoso.
Os pequenos detalhes de nossa vida são o que realmente contam num relacionamento. Não é a mansão, o carro, as propriedades, o dinheiro no banco. Estes bens criam um ambiente propício a felicidade, mas não proporcionam mais do que conforto. Portanto, encontre tempo para ser amigo de sua esposa, faça pequenas coisas um para o outro para mantê-los próximos e íntimos. Tenham um casamento real e feliz!
Fonte: http://www.neirmoreira.com/2010/index.php?option=com_content&view=article&id=157:detalhes&catid=43:mensagem&Itemid=44
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
PRISIONEIRO
Debato-me dentro de mim,
Quero sair, correr, pular, gritar.
Libertar-me, enfim.
Seguir meu caminho,
Livre, leve, solto e sozinho,
E, então comemorar.
Quero chorar e não consigo,
Procuro então abrigo,
Alguém para me consolar.
O afago que falta, a palavra
que não vem, a solução que tarda,
é tudo que se tem.
Preso estou em pensamentos,
Em devaneios e idéias desconexas,
Imaginações do inconsciente,
sonhos que viram pesadelo, e a
Loucura que ameaça intensamente.
Não há prisão pior que a prisão das idéias,
Do pensamento, das ações e da consciência.
Por ela a inteligência é testada e
A dignidade humana, colocada à prova.
O encarceramento do “eu” causa dor,
E o isolamento machuca o coração.
Livrar-se da culpa alivia o peso
e fugir do claustro que o domina,
seu objetivo principal.
Quero ser livre e ao mesmo tempo preso,
Não à filosofias é idéias absurdas,
Tampouco à ideologias insanas,
Livre para pensar, agir e falar.
Livre para escrever, Livre para Amar,
Livre para VIVER.
"É proibida a reprodução por qualquer meio sem autorização por escrito do autor."
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
"DEUS NOS LIVRE DE UM BRASIL EVANGÉLICO"
Escrito por REDAÇÃO | O GALILEO
ARTIGO: Pastor Ricardo Gondim é um dos mais renomados teólogos brasileiros, presidente da Assembléia de Deus Betesda e requisitado conferencista. Apresenta o Programa "Reflexões" na Rádio AM Nova Difusora é colunista de vários veículos de comunicação e autor premiado de vários livros
Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.
Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar "crente", com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.
Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?
Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.
Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.
Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.
O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.
Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.
Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.
Soli Deo Gloria
Fonte: http://www.neirmoreira.com/2010/index.php?option=com_content&view=article&id=152:brasil&catid=43:mensagem&Itemid=44
ARTIGO: Pastor Ricardo Gondim é um dos mais renomados teólogos brasileiros, presidente da Assembléia de Deus Betesda e requisitado conferencista. Apresenta o Programa "Reflexões" na Rádio AM Nova Difusora é colunista de vários veículos de comunicação e autor premiado de vários livros
Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.
Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar "crente", com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.
Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?
Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.
Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.
Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.
O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.
Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.
Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.
Soli Deo Gloria
Fonte: http://www.neirmoreira.com/2010/index.php?option=com_content&view=article&id=152:brasil&catid=43:mensagem&Itemid=44
domingo, 13 de fevereiro de 2011
VOLTAR AO PRINCÍPIO
Hoje é um dia incomum, não porque que o sol tenha voltado a brilhar ou o céu, recuperado seu tom azul. É que uma luz começou a brilhar fim do túnel, quase imperceptível, mas que se intensifica à medida em que o tempo vai passando. É um momento importante, para ser não apenas vivenciado, mas sentido, desfrutado e mantido. Mas esta é a parte mais difícil! Porque é importante voltar ao princípio de tudo. Que “princípio” é este e por que voltar a ele? São perguntas que exigem respostas francas, que serão dadas passo a passo, após profunda reflexão.
Sempre que iniciamos um projeto, o fazemos com empolgação, entusiasmo e com o propósito de levá-lo até o fim. No entanto, a jornada apresenta obstáculos, percalços e desafios, que nos levam a concluir - precipitadamente - que nosso objetivo talvez não seja alcançado. Nesses momentos, nossa resistência é testada e nossos verdadeiros motivos, pesados na balança da verdade. Nem sempre resistimos o suficiente para ir até o final. Sentimo-nos momentaneamente derrotados, quase sucumbimos diante de nossas incapacidades e limitações. Mas apesar do aparente fracasso, uma pequena faísca persiste em se manter acesa, quase que invisível, aguardando apenas que um vento suave sopre e a faça incendiar-se novamente.
Sempre que iniciamos um projeto, o fazemos com empolgação, entusiasmo e com o propósito de levá-lo até o fim. No entanto, a jornada apresenta obstáculos, percalços e desafios, que nos levam a concluir - precipitadamente - que nosso objetivo talvez não seja alcançado. Nesses momentos, nossa resistência é testada e nossos verdadeiros motivos, pesados na balança da verdade. Nem sempre resistimos o suficiente para ir até o final. Sentimo-nos momentaneamente derrotados, quase sucumbimos diante de nossas incapacidades e limitações. Mas apesar do aparente fracasso, uma pequena faísca persiste em se manter acesa, quase que invisível, aguardando apenas que um vento suave sopre e a faça incendiar-se novamente.
Nem sempre damos a devida importância ao que é aparentemente “pequeno”; ignoramos que a pequenez de algo não o anula ou o invalida, tão pouco o exclui. Muitas vezes, por trás de pequenas coisas ou pessoas, escondem-se grandes tesouros, valores inestimáveis, difíceis de serem recuperados, quando perdidos.
Certo dia ouvi a história de uma mulher, que durante muitos anos guardou dentro de seu velho colchão as economias de toda a sua vida -milhares de dólares - julgando que estariam mais seguros ali do que em uma instituição bancária. Sua filha, querendo fazer-lhe uma surpresa em seu aniversário, resolveu presenteá-la com o que tinha de mais moderno e confortável. Informou-se daquilo que a mãe mais necessitava e saiu, sem nada dizer. Chegou na loja e, após pechinchar muito com o gerente, comprou um lindo colchão. Três dias depois, a loja entregou o presente. Sem que a mãe notasse a movimentação dentro da casa, a filha pegou o velho e rasgado colchão e despachou-o para o aterro sanitário da cidade, desconhecendo o seu valioso conteúdo. A mãe ao receber o presente, sorriu satisfeita, porém, tomada pela curiosidade e um tanto aflita, perguntou o que ela havia feito com o antigo. Ao tomar conhecimento do destino dado ao velho “companheiro”, mal podia acreditar. Teve uma crise de choro e quase infartou. Perdera tudo e não tinha a menor esperança de algum dia poder recuperá-las. Mas felizmente sobreviveu, com a ajuda e a solidariedade de familiares e amigos.
Às vezes fazemos isto também. Conscientes ou não, descartamos o “velho” sem considerar o que pode estar guardado em seu interior.
Às vezes fazemos isto também. Conscientes ou não, descartamos o “velho” sem considerar o que pode estar guardado em seu interior.
Quando nos distanciamos do ideal proposto por Deus, para abraçar nossos próprios ideais, percebemos quão apáticos e vazios nos tornamos. Ignoramos que os projetos divinos são mais elevados e têm repercussão na eternidade! Ao tentarmos substituir o divino pelo terreno, o eterno pelo temporal, entramos num labirinto escuro, cuja saída dificilmente será encontrada, a não ser pela intervenção do próprio Deus.
Quando tentamos fazer de conta que não é conosco, só enganamos a nós mesmos, além de entristecermos ao Senhor. Mais cedo ou mais tarde Ele acertará as contas, como o fez com o profeta Jonas.
O caminho de volta nem sempre é trilhado com sorrisos, sem reclamações ou protestos, mas não há outra forma de aquietar o próprio coração e alegrar o do Criador; de alinhar nossa vontade, propósito e sonhos com os Dele. Retornar ou prosseguir assim mesmo. A escolha é sempre nossa. Feliz é aquele que procura harmonizar seus projetos com os de Deus; que prioriza o Reino Celestial, colocando os seus próprios interesses à mercê do Eterno Pai. Esses jamais se arrependerão e ainda serão recompensados pelo que fizeram.
DEUS É FIEL! DEUS SEJA LOUVADO!
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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
AS INTERPRETAÇÕES DO APOCALÍPSE
O livro do Apocalipse não deveria ser interpretado ao bel prazer de nenhum segmento em particular, quer seja evangélico ou não. Porém, o que temos acompanhado, especialmente no segmento evangélico, mas também em outras esferas da cristandade, é um sem número de cristãos, leigos, estudantes de teologia, seminaristas, pastores e professores, firmarem posições acerca do assunto, sem considerar o contexto em que foi escrito, o estilo literário, as palavras-chave, os símbolos, as alegorias e toda a complexidade que o assunto encerra. Acredito que este comentário, considerando os quatro principais pontos de vista, muito nos ajudará a refletir sobre o que temos, não somente crido, mas também pregado. Que Deus nos ajude a rever nossos conceitos e pré-conceitos e mudar, se necessário for.
1. Ponto de vista Preterista - Kennett L. Gentry Jr.
2. Ponto de vista Idealista - Sam Hanstra Jr.
3. Ponto de vista Dispensacionalista Progressivo - C. Marvin Pate
4. Ponto de vista Dispensacionalista Clássico - Wayne G. Strickland
1.1 – Ponto de Vista Preterista
O preterista enfatiza que grande parte das profecias de João ocorreu no século I. As profecias pronunciadas por ele, apontavam para o futuro, e os seus interlocutores as leram, mas, em relação a nós, no século XXI, elas estão no passado. Eles afirmam que “o Apocalipse é um livro altamente figurativo que não podemos abordar a partir de um literalismo direto e simples.” Acrescentam que “uma interpretação literal rígida da linguagem apocalíptica inclina-se a confusão e equívocos infinitos” (Terry, 1974).
O preterista insiste que a chave para o Apocalipse seja encontrada na abertura (Ap 1.1 a 3).
Terry observa que, os eventos do Apocalipse são referentes “só a alguns anos no futuro após João escrevê-lo”. A ênfase urgente de João é na expectativa temporal.
O preterista assegura, positivamente, que os eventos afirmados por João, estão próximos, já nos seus dias, consequentemente, estão em nosso passado distante. O preterismo é exegeticamente fundamentado, pois estão arraigados em princípios hermenêuticos sólidos.
Os preteristas apregoam que João está escrevendo para seres humanos, mas não sobre Deus, portanto, o Apocalipse é particularmente motivacional; que João está escrevendo para sete igrejas específicas, históricas, a respeito de terríveis circunstâncias presentes que elas estão vivendo; O Apocalipse promete que não haverá nenhuma demora. (10.6); É enfático e declarativo; É harmonicamente paralelo (compara Apocalipse 6 com Mateus 24).
Os preteristas se contrapõem à réplica daqueles que afirmam que esses eventos de fato ocorrem no primeiro século, mas que se repetem depois, na história. Afirmam que não há nenhuma garantia exegética para estas afirmações, sendo suas declarações meramente teológicas. O princípio teológico do já/ainda não, embora válido e aceito pelos evangélicos não pode governar trabalhos completos, vastos e complexos como o Apocalipse.
Quanto ao tema apocalíptico (Ap 1.7), o preterismo afirma que o foco de atenção do Apocalipse( ainda que não o único) é que “Deus julgará os judeus do século I por rejeitar e crucificar seu Ungido. Lembremos das palavras do povo judeu quando do julgamento do Cristo: ”Crucifica-o” “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos.” (Mt 27.22.25, v. Jo 19.1-16). Em seu contexto definido para o v.7, percebemos que está apontando para destruição de Jerusalém e seu templo em 70 d.C, que traz vários resultados dramáticos, entre eles: a ira de Deus por rejeitar seu Messias, conclui a antecipação da aliança antiga, já antiquada e por envelhecer, fecha o tema do sacrifício tipológico, reorienta a adoração a Deus e universaliza a fé cristã.
De forma interessante, João menciona o “trono de Deus” em 18 dos 22 capítulos do livro. Das 62 vezes em que aparece a palavra “trono” no NT, 47 delas são encontradas em Apocalipse, indicando uma forte tendência relativa a julgamentos no livro. Quanto aos sete rolos selados, os preteristas apresentam quatro controles interpretativos: 1) o rolo deve se aplicar a eventos do século I, porque o “tempo está próximo”.(1.3;22.6,10,12; v. 6.11); 2) o rolo deve se referir a Israel, porque o tema do Apocalipse recorre “ aqueles que o traspassaram” (1.7; 11.8); 3) O rolo deveria ter provas do AT, porque a influência do AT em Apocalipse é predominante ( R.Thomas, Revelation 1-7, p.41) e; 4) O rolo deveria ser consistente com a fluidez do Apocalipse, por estar intrinsecamente estruturado.
Com respeito aos sete selos, observam que há um “paralelismo íntimo entre o Sermão do Monte das Oliveiras de Jesus” e os selos do Apocalipse. E como o preterista lembra, os contextos das duas profecias se relacionam a eventos do século I (v. Ap 1.1,3 com Mt 24.2,3,34). Eusébio (260-340) usou a história de Josefo da Guerra dos judeus (67-70 d.C) para ilustrar o cumprimento da profecia do discurso do Monte das Oliveiras (História eclesiástica 3:5-9).
Com respeito aos 144 000 selados, o preterista concorda com a maioria dos estudiosos, de que o número é certamente simbólico, como em Apocalipse todos os milhares perfeitamente arredondados parecem ser. Afirmam ainda que estes selados são a raça de judeus provenientes das doze tribos de Israel, que aceitam o Cordeiro de Deus para a Salvação.
A interpretação preterista não leva em conta a diferença da palavra “tempo” (kairos, e.g., Ap 1.3). A posição preterista alivia desnecessariamente a tensão entre o já (primeira vinda de Jesus) e o não ainda (a segunda vinda de Jesus). O ponto de vista preterista está intimamente relacionado à hipótese da identificação da Babilônia, que é destruída nos caps 17 e 18, com Jerusalém, mais particularmente com o Judaísmo do século I que desfrutou de uma condição privilegiada por Roma por ser uma religião legal.
Em resumo: o ponto de vista preterista considera a interpretação histórica do Apocalipse, relacionando-a com seu autor original isto é, João tinha como alvo as verdadeiras igrejas que enfrentaram horríveis problemas no século I. A tentativa contínua de firmar o cumprimento das profecias divinas no século I d.C constitui a abordagem distintiva dos preteristas. Eles localizam a cronometragem do cumprimento das profecias do Apocalipse no século I, especificamente logo antes da queda de Jerusalém em 70 d.C, (entretanto alguns também vêem seu cumprimento nas quedas de Jerusalém [séc. I] e de Roma [séc.V]. Não obstante haver outras opiniões, o preterismo mantém, em grande parte a data do livro como neroriano (54-68). Os argumentos básicos para isto são: o fato de haver alusões a Nero ao longo do Apocalipse como o Imperador da época; as condições das igrejas da Ásia menor correlaciona-se melhor com o cristianismo judeu anterior ao ano 70; de acordo com Apocalipse 11, o templo parece ainda estar erguido.
Com respeito à filosofia da história presumida pela maioria dos preteristas, ela é positiva. O mundo melhorará por causa do triunfo do evangelho.
1.2 – Ponto de vista Idealista
O idealista aborda o livro de Apocalipse simbólica e espiritualmente, sendo chamado, às vezes, de a visão espiritualista. O livro é visto desta perspectiva que representa o conflito contínuo do bem e do mal e não possui conexão histórica com nenhum evento específico, seja político ou social. A visão idealista se distingue das demais, recusando nomear as declarações que precedem a qualquer correspondência histórica, e assim nega que as profecias no Apocalipse são proféticas, exceto no sentido mais geral da promessa do último triunfo do bem quando Cristo retornar.
A origem da escola idealista de pensamento pode ser remontada às origens da hermenêutica alegórica, ou simbólica, defendida pelos pais da igreja de Alexandria, especialmente Clemente e Orígenes. O idealista, como já mencionado, não restringe os conteúdos do livro a um período da história em particular, mas vê isto como uma dramatização apocalíptica de batalha contínua entre Deus e o mal. Porque os símbolos são polivalentes no significado e sem referente histórico específico, a aplicação da mensagem do livro é restrita.
Segundo os próprios idealistas, os cristãos modernos deveriam adotar uma abordagem idealista porque o seu ponto de vista se baseia em um sólido fundamento hermenêutico.
O idealista reconhece a natureza apocalíptica do livro de Apocalipse, embora admita que o livro contém elementos epistolares. Também acredita que João emprega o estilo apocalíptico para levar sua mensagem ao leitor. O idealista não somente reconhece o texto como literatura apocalíptica, mas também o interpreta como esse tipo de literatura. Ao reconhecer isso, o intérprete idealista prefere uma abordagem não literal para cada versículo do livro. Para o idealista deve haver uma boa razão para se abster de interpretação simbólica do texto.
O cerne da abordagem idealista é que o livro do Apocalipse apresenta preceitos espirituais por meio de símbolos, ao invés de um livro de profecia cumprido em eventos específicos ou pessoas na história humana.
1.3 – O ponto de vista Dispensacionalista Progressivo
Na década de 80, certos teólogos dispensacionalistas iniciaram uma reconsideração do sistema e desenvolveram o que foi chamado de “progressivo” ou “modificado”. A idéia abrangente que contém essa interpretação é sua aderência hermenêutica do “já/ ainda não”. Esse sistema vê a primeira e a segunda vinda de Cristo pela lente da tensão da escatologia. A primeira vinda testemunha a inauguração do Reino de Deus, ao passo que a segunda resultará em sua realização completa. Aí, então, o cristão vive na tensão entre a era por vir e esta presente e má.
Os progressivos acreditam que Jesus começou seu reino davídico na ressurreição. A igreja não é um parêntese no plano de Deus. A nova aliança está começando a ser cumprida na igreja. A promessa do AT sobre a vinda dos gentios para adorar o verdadeiro Deus ao término da história, também está experimentando realização parcial na igreja. (Rm 15.7-13)
Os progressistas focalizam também o Apocalipse 1.9 como a chave para a estrutura do livro, mas em lugar de examinar o versículo delineando passado, presente e futuro, este ponto de vista percebe somente dois períodos no trabalho.
O dispensacionalista progressivo também vê o desdobramento da história com pessimismo, porque ele é Pré-milenarista em sua perspectiva. Porém, a hermenêutica do já/não ainda não ajusta esse pessimismo à convicção otimista que o Reino de Deus alvorece espiritualmente, dando, assim, grande esperança ao povo de Deus.
Os progressistas são cautelosos quanto a não necessariamente comparar esta geração atual com a última antes do retorno de Cristo. Pode ser, ou pode não ser.
Os progressistas são cautelosos quanto a não necessariamente comparar esta geração atual com a última antes do retorno de Cristo. Pode ser, ou pode não ser.
O contexto histórico-cultural é importante para o dispensacionalista progressivo quando interpreta o texto sagrado. Este princípio hermenêutico é relevante para a compreensão do livro do Apocalipse, como por exemplo, os capítulos 4 e 5 onde os mais recentes estudiosos reconhecem, há um conflito histórico-cultural entre judeus-cristãos e o culto imperial Greco-romano.
Com respeito aos sofrimentos messiânicos ou os sinais dos tempos que ocorrerão imediatamente antes do aparecimento do Messias, dois assuntos servem como diretrizes para um ponto de vista dispensacionalista progressivo: 1( o período das aflições e 2) a identificação dos santos da tribulação.
A abordagem dispensacionalista progressiva do Milênio (Ap 20) será claramente pré-milenar. Embora os crentes sejam espiritualmente levantados com Cristo na conversão e atualmente reinam com ele do céu, mas a plenitude de Cristo só se dará por ocasião do segundo advento de Cristo.
Referente à separação entre igreja e Israel, os progressistas acreditam que os gentios já foram incluídos como um povo de Deus, pela fé em Cristo; mas Deus ainda não pôs fim a Israel porque um dia restabelecerá aquela nação para ele e Jesus, o Messias.
De acordo com os despensacionalistas progressivos, embora os sinais dos tempos (as aflições messiânicas) tiveram início durante a primeira geração de cristãos, a grande tribulação ainda não ocorreu; Ela está no futuro, e a igreja estará isenta dela.
1.4 – Ponto de vista Dispensacionalista Clássico
Durante o século XX a interpretação mais popular do Apocalipse foi o dispensacionalismo, uma das variantes do pré-milenarismo. O nome do movimento é derivado da palavra bíblica “dispensação”, um termo que recorre à administração da casa de Deus.
Os dispensacionalistas dividem a história da salvação em eras históricas ou épocas para distinguir as administrações diferentes do envolvimento de Deus no mundo. Scofield definiu a dispensação como “um período de tempo durante o qual o homem é testado em relação à sua obediência a alguma revelação específica do testamento de Deus.”
A autenticidade do dispensacionalismo foi seu compromisso a uma interpretação literal da escritura profética. Isto resultou em três outras doutrinas famosas, apreciadas por partidários do movimento: 1) Uma distinção entre as profecias feitas sobre Israel no AT e a igreja no NT deve ser mantida. A igreja não substitui Israel no plano de Deus. Então, a igreja é um parêntese no término desse plano.
Os dispensacionalistas são pré-milenaristas; quer dizer, eles crêem que Cristo virá novamente e estabelecerá um reinado temporário, mil anos em Jerusalém. Eles acreditam no arrebatamento pré-tribulacionista, isto é,o retorno de Cristo acontecerá em duas fases: a primeira para sua igreja que será poupada da grande tribulação; a segunda em poder e glória para conquistar seus inimigos.
O dispensacionalismo parece ter sido articulado primeiramente pelo clérigo anglicano irlandês John Nelson Darby, líder influente no movimento dos irmãos Plymouth na Inglaterra, no século XIX. O entendimento do dispensacionalismo clássico do tempo do Apocalipse e sua estrutura caminham juntos. Porque essa escola de pensamento interpreta as profecias do livro literalmente, seu cumprimento, então, é percebido como ainda futuro (espec. 4 – 22). Além disso, o dispensacionalista clássico acredita que a falta de menção da igreja no capítulo 4 indica que esta será arrebatada ao céu por Cristo antes do advento da grande tribulação (*Caps 6 – 8). Como o dispensacionalismo está intimamente associado ao pré-milenarismo, não surpreende que essa perspectiva veja a história do mundo com pessimismo.
Fonte: PATE, C. Marvin, As Interpretações do Apocalípse: quatro pontos de vista (Editora Vida, 2003.) – Coleção Debates Teológicos
Considerações – Avaliação Crítica
Analisando a exposição acima, concluí que cada comentarista procurou convencer o leitor de que a sua posição e pontos de vista eram os mais corretos. Todos procuraram mostrar em que fundamentam suas afirmações mas, se eu fosse abordar um tema como este, procuraria apenas mostrar minha visão e compreensão sobre o assunto e respeitaria os que pensam e crêem diferente de mim, o que alguns deles não fizeram. Sem dúvida, a obra em questão é de grande valor, não só teológico, mas exegético, hermenêutico, etc.
Cabe ao leitor decidir sobre qual ponto de vista escolher, mas é certo que uma reflexão mais aprofundada deve ser considerada, e possivelmente, como conseqüência natural, novos conceitos, incorporados, substituindo aqueles que não se adequam à realidade cristã, bíblica e escatológica.
Deus abençoe a sua vida!
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